5.31.2010

desconectados

Palavras são, com muita certeza nessa minha cabeça incerta, as mais traiçoeiras das coisas do mundo.
E também as mais lindas.
As não ditas então... Estão dentro de mim, estão dentro de você, mas não estão entre nós.

8.15.2009

acabei de escrever um post eu, mas perdi. Tecnologia de merda.

3.28.2009

E de repente me senti feliz. Exatamente às 23:50 de hoje comecei a me sentir livre. E daí, feliz. Que estranha eu sou.
Sem saber por onde comecar ela resolveu comecar dali mesmo de onde estava, no fim. As lagrimas nos olhos impediam a visao clara. E as teclas do computador mais pareciam manchas negras cheias de bolor. Tentava ler seu texto, ditar pra si mesma pra tentar ajudar as palavras a se acharem. Mas sua voz tremula, e baixa, e rouca, e fraca nao chamava nada. As paredes sem quadros da sua nova casa, que era a velha mas ja nao era a mesma, simbolizavam sua nova solidao. E as coisas que ficaram pareciam estar todas pela metade. Suas maos estavam tremulas, sua boca estava triste, suas pernas afinaram. No braco, tinha uma mancha roxa. E seu coracao parecia estar dentro de um buraco. Um buraco fundo, escuro, que ela nao sabia onde ficava. Olhou pela sacada, tragou o cigarro e percebeu que nao estava comecando. Nem comecando, nem continuando, nem terminando. Um estado de pedra. Ou um outro estado. Sem nome. Sem sangue, sem visceras, sem tempo, sem espaco, sem pensamentos, sem alma, sem corpo, sem fome, sem sede, sem silencio, sem musica, sem voz, sem sono, sem saudade, sem cores, sem cheiro, sem morte nem vida. E entao ela nao tinha mais o que dizer.

Obrigada, Leticia Ono.


The Chestnut Tree, de Hyun Ming Lee (Vídeo visto originalmente em http://blog.hiro.art.br)

sentimentos

Angustia eh quando o Diabo enfia a mao no seu peito e fica apertando o seu coracao por alguns minutos. Olhando no seu olho. E voce nao sabe se ele vai solta-lo ou esmaga-lo de vez.

3.23.2009

Que minutos insuportáveis. Tomara que nao passe de minutos.

3.19.2009

O amor: um tapete preto no meio da sala

Ela acordou e, como sempre, se voltou para o lado esquerdo para abraçar o corpo magricelo do marido. Ainda meio sonolenta, passou o braço em volta da cintura dele e sentiu pelos. Sim, pelos. Abriu os olhos com preguiça e certeza de que tinha uma explicação para ter tido esta sensação - o gato, talvez, tivesse aberto a porta e subido na cama. Com as palpebras no meio dos olhos visualizou o que mais tarde ela chamaria, contando para sua irmã, de "aquele tapete preto de chenile". Arregalou os olhos. O braço do marido estava coberto de pelos. Pelos que nao estavam ali antes. Mas muitos pelos, nao se via a pele.
Pensou por dois segundos onde estaria errando. Pois claro, não podia haver pelos ali, ainda mais naquela quantidade. Seu marido sempre fora imberbe. Nao conseguiu pensar em nada. Quis virar o corpo todo do marido para o seu lado para acorda-lo e perguntar o que era aquilo ou pior: para confirmar alguma surpresa maior ainda do que o novo braço peludo dele. Mas estava com um pouco de nojo e medo de tocar nele.
Curiosamente, neste instante, ele se virou pra ela, ainda dormindo. E este foi provavelmente o momento mais estranho que aconteceu na história da humanidade, mas que infelizmente ficou guardado entre ela e sua irmã. No máximo com uma amiga da irmã (que não resistiu e contou). O marido tinha pelos pelo corpo todo. Bem, esta explicação está ruim. Ele não tinha pelos apenas, ele tinha pelos longos, grossos, pretos pelo corpo todo. Mais pelos que um macaco. Aliás, ele se parecia muito com um macaco, um pouco mais feio porque lhe faltavam os olhos doces que todo símio tem.
Ela não se conteve. Soltou um grito silencioso. Aquele suspiro com a respiração presa depois, como um grito pra dentro. E ficou paralisada, olhando pra cara dele.
Ele, o Arnaldo, aquele homem por quem ela se apaixonou desde o primeiro encontro. Aquele homem barbeado, e bem barbeado. Rosto liso, lindo. Advogado, na verdade promotor público, tão promissor, o melhor genro dos seus pais (todos sabiam veladamente que o Arnaldo era o genro favorito). O homem pra quem ela se entregou completamente, se dedicou, fez striptease pra esse homem. Esse não, aquele.
O Arnaldo, que seria o futuro pai dos seus filhos, tinha virado uma espécie de bicho. De bicho não, uma espécie de monstro, um pequeno king kong, uma bizarrice como a mulher barbada do circo. Assim que pensou na mulher barbada do circo foi correndo para o espelho. Ufa! Estava normal. Que alívio. Seu único problema agora seria se livrar do Arnaldo Kong. Sim, e se livrar é uma palavra forte demais mas ela não tinha outra opção. Ela não ia viver com aquilo, mostrar pras amigas, sair com ele ou qualquer coisa do gênero. Na verdade, ela queria muito que ele desaparecesse. Ela preferia dizer que tinha sido abandonada a se mostrar ao lado dele.
Quem sabe o zoológico aceitasse o Arnaldo? Ela podia dizer que ele era um espécime único de chimpanze. Melhor! O Elo perdido! Um descendente do Elo perdido! Ou o elo perdido tinha sido o ultimo dele? Será que acreditariam? Mesmo assim ela teria que leva-lo de carro até o zoológico. Descer no elevador, encontrar vizinhos... e a câmera do elevador? Não, de jeito nenhum. Ir a um circo daria na mesma.
Ficou imaginando se ele ainda sabia falar. Ok, o Arnaldo nunca foi bom de comunicação, mas não saber a língua é diferente. Se ele ainda pudesse falar isso iria acabar com os planos dela de vender ele pro zoológico. Vender, claro, pois a essa altura ela já tinha se dado conta da raridade que tinha nas mãos. Se ele ainda soubesse falar ninguém acreditaria em homem-macaco, elo perdido, espécime raro ou nada disso. Fariam uma depilação a laser nele e pronto. Como se isso pudesse trazer seu Arnaldo de volta. Nunca mais teria seu Arnaldo de volta. Agora era dar a volta por cima e tirar proveito da situação, como sua avó lhe ensinou desde pequena.
E ele não acordava para resolver o mistério da fala. Continuou esperando. Não exatamente esperando, mais pensando do que esperando. Desejava intimamente que ele não acordasse mais. Daí, ela até poderia mesmo fazer um tapete preto pra sala. Um tapete pra sala... um tapete novo e preto pra sala. Nao seria de chenile, mas seria de Arnaldo. Até combinaria com seus móveis. Ela não precisaria tirar o corpo do apartamento. E ainda ficaria com uma parte do Arnaldo ou um pedaço dele pra si, pra sempre, ali. Os detalhes da transformação do Arnaldo em tapete são desnecessários. Podem parecer bizarros, mórbidos, apesar de tudo ter sido feito com muita delicadeza e amor. 5 dias ela ficou dentro do apartamento neste trabalho. Se dedicando ao Arnaldo. Fez o melhor que pode. E fez o melhor por ele. Ele ficaria feliz se visse o resultado. E até hoje, o Arnaldo está ali, enfeitando sua sala, combinando com seus móveis. De vez em quando, secretamente, quando as crianças estao dormindo e o marido vendo futebol, ela alisa o tapete preto.
E suspira.

3.15.2009

PA LARVAS

Minhas palavras sao como larvas.
Se arrastam, deixam rastro, sao lentas, feias e causam repulsa. Se reproduzem.
Consomem minha carne.
As vezes viram bichos que voam.
As vezes nao.

sem palavras ate para o titulo

As palavras me dominam. O dia que elas querem sair de mim, me dao nausea e me fazem vomitar.
O dia que nao querem, posso enfiar o dedo na garganta o quanto quiser.
Elas adoram brincar comigo.
Podem parar. Ja entendi que hoje eh dia de jogo de esconde-esconde.
E eu me esqueci como se brinca.

resposta ao Reinaldo

estar triste eh estar vivo.
tristeza eh uma presenca.
depressao eh ausencia. Inexistencia. O nada.

3.07.2009

A menina da dor do bolo no labirinto

era uma vez uma menina de 7 anos.
7 anos de idade.
7 anos de felicidade.

Um dia, um pouco antes de fazer 8 anos (o que era o sonho dela, pois sempre gostara do numero 8, o numero que parece uma formiguinha) ela encontrou um bichinho. Um bichinho preto, feio, misterioso. Na verdade, foi o bichinho que encontrou a menina. Ela ficou olhando pra ele. E ele olhando pra ela. E apesar de seus olhos nao serem visiveis ela tinha certeza disso.

E assim eles ficaram por muito tempo. Mais tempo que era o tempo que ela esperava pra chegar a hora de dormir, que era sua hora favorita. E era sua hora favorita porque nessa hora ela fazia uma coisa que sua mae chamava rezar mas que ela chamava de esvaziardepalavras.

Mas naquele dia ela nao conseguiu esvaziardepalavras. Ela tentou. Ajoelhou-se ao lado da cama e ficou parada. Sem pensamentos e sem palavras. Nao conseguia ter palavras. O bichinho ali, olhando como que vitorioso. Ela fechou os olhos a procura das palavras, uma so, umazinha. E nada. E entao ela soube que nao conseguiria mais esvaziardepalavras.

Acordou no dia seguinte, como acordou em todos os dias dai pra frente. Quer dizer, nunca igual porque a cada dia mais e mais palavras estavam se acumulando dentro dela. Olhava as pessoas e ficava imaginando como elas podiam continuar vivendo normalmente. Onde e como elas estariam esvaziandopalavras. Mas nao tinha palavras pra perguntar e ficou sem resposta mesmo. Ficou na duvida ainda por muitos anos, ate descobrir muito tempo depois que elas tinham um bau de guardar palavras. Mas ela nao queria um bau desses. E ela nao queria por dois motivos: primeiro porque ele teria que ser tao grande, mas tao grande, que ela teria medo de cair dentro dele quando fosse esvaziardepalavras la dentro. Segundo porque ela tinha medo de alguma palavra fugir. Ela sabia que suas palavras eram maquiavelicas, mesmo sem conhecer esta palavra. Elas iam conseguir uma forma de fugir. E isso seria uma tragedia. Principalmente porque elas, as palavras, conseguem fazer aquele negocio que os bichos fazem, que se chama mimetismo, que seu pai lhe explicou um dia que era tipo uma fantasia que eles vestem e que os deixa parecidos com o lugar onde estao. Pois eh, as palavras tambem mimetem.

Entao ela resolveu que ia deixar as palavras dentro da cabeca mesmo. Talvez elas ficassem tao perdidas no labirinto de seu cerebro que nao encontrassem a saida nunca.

Mas ela, que sabia de um monte infinito de coisas (ela vinha fazendo uma lista das coisas que sabia mas quanto maior a lista ficava, maior tambem ficava a lista das coisas que tinham que entrar na lista. Ela desconfiava que isso devia ser um dos misterios de deus que o padre tanto falava nas aulas de religiao.) Pois sim, ela que sabia de tantas coisas, nao sabia de uma. Uma muito importante. Porque as pessoas nao falam das coisas que realmente importam. E por isso ela nao sabia que palavras adoram labirintos. Principalmente as maquiavelicas. Porque dentro dos corredores dos labirintos, elas comecam a se juntar e a formar bolos de palavras. E estes bolos vao crescendo dentro do corredor. O corredor vai crescendo dentro do labirinto.

E isso doi.
Doi mais que cortar o dedo com faca. Mais do que torcer o pe. E bem mais do que uma palmada de mae. Ela conhecia todas estas dores. Menos dor de bolo de palavras.

Mas a dor so comecou no outro dia de manha. No dia do seu aniversario de 8 anos. E entao no fim da tarde ela percebeu que o bichinho nao estava mais ali.

De novo ficou sem entender. Mas desta vez nem queria. Porque a dor ja estava la. E no comeco, ela ate se esquecia da dor quando ia brincar, mas com o passar do tempo, existia apenas ela e a dor.

E assim foi seu aniversario de 8 anos.
E assim foi seu aniversario de 9 anos.
E assim foi seu aniversario de 30 anos.
30 anos de idade.
7 anos de felicidade.