5.11.2005

Passarinho

Era uma vez um passarinho.
Um passarinho pequeno, grande e amarelo.
Quando este passarinho abria suas asas, nada mais via. Eram grandes e voadoras.
Digo assim porque há asas que não são voadoras. Mas este passarinho tinha asas voadoras.
Ele não voava todo sempre, mas quando voava, alcançava o Alto Céu.
Alto céu era um lugar que ficava entre o Rio Grande de Cima e o Rio Grande de Baixo. Estes eram dois grandes rios em que moravam os maiores peixes do mundo e os únicos tubarões de água doce da Terra. Mas esta é uma outra história.
Hoje estou contando a história do passarinho, esse, das asas voadoras.
Um dia ele estava voando e avistou, lá de cima, uma comida suculenta. Era muita, muita comida. O passarinho, então, mergulhou céu abaixo, salivando. E encontrou o paraíso. Um universo de comida suculenta, fresquinha e saborosa. E quanto ele mais comia, mais comida aparecia. Era mesmo o paraíso.
E ali ele foi ficando, feliz, feliz, porque tinha encontrado um valioso tesouro. E era valioso mesmo.
O tempo foi passando e o passarinho foi ficando e, apesar de ter toda a comida de que precisava, ele foi entristecendo. A cada dia um pouquinho. Foi ficando triste, cabisbaixo, desanimado... e ninguém sabia o que estava acontecendo com ele. Nem o Próprio.
Próprio era um amigão do passarinho. Ele realmente conhecia e entendia o passarinho muito bem. Estava sempre ali, lado a lado. Foi então que o Próprio começou a se perguntar: será que era a comida? Não, a comida era boa e o Passarinho queria comer. Será que era o Sol? Não, o Sol quente e brilhante antes deixava o Passarinho feliz. Será que era o Vento? SIM! Era o vento!
Ali, naquela terra, o vento não gostava de passear. É que acontecia uma coisa de corrente fria com corrente quente e o vento se sentia enjoado com esse vai-e-vem.
E passarinhos precisam de vento.
E o único jeito de fazer vento era voando.
Mas se o passarinho levantasse vôo, a comida desapareceria porque ela só aparecia quando era comida, sabe?
Comida encantada é assim, cheia de capricho. O Próprio também estava confuso. Havia momentos em que ele achava que o Passarinho devia sair voando e que, se passasse fome, pelo menos que fosse com o vento.
Mas havia momentos em que ele achava que o Passarinho devia ficar, continuar se alimentando e alimentando sua comida.
Passarinho concordou.
O problema é que sempre que a gente concorda com alguma coisa, alguém vem morar com a gente.
Neste caso, foi o Sonho. O Sonho mudou-se pra casa do Passarinho. De vez. E o Sonho era muito legal, muito mesmo.
No começo o Passarinho achou até que estava mais feliz porque agora tinha um Sonho. Mas o negócio é que o Sonho era extremamente birrento. Isso mesmo. Feito aquelas crianças que deitam no chão e batem pernas e braços. Acredite! O sonho fazia exatamente assim!
E ele não deixava o Passarinho em paz. Estava a todo tempo querendo Ser (Ser é um doce muito gostoso, o único problema é que só existe dele lá no Alto Céu).
Daí um dia aconteceu. O Passarinho deixou de ouvir os conselhos do Próprio, subiu na pedra mais alta do vale da comida e alçou vôo.
O Sonho encontrou o Ser e o passarinho encontrou a Felicidade.
Felicidade era uma deusa, uma bela deusa que vivia mais alto que o Alto Céu. Mas esta é uma outra história...

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